O Amor nos tempos da Cólera

Como somos caridosos e bons!
como somos gentis!
como somos bons cristãos amando uns aos outros!
como somos amorosos com nossos irmãos distantes!
Homens ricos são caridosos
sim, eles são!
tentando salvar uma nação inteira
com o interior de suas carteiras
“Muito obrigado por sua doação, senhor, nos ajudará muito”
claro que vai ajudar
ele deu de coração; só que
nem você, nem seus filhos
vão ver esse dinheiro
nem seus irmãos e irmãs
A única coisa que vão ver
é a febre e a dor
a loucura e a raiva
a caça por comida, a selvageria
os saques e as brigas
Não existe Amor nos tempos da Cólera
epidêmica

Barulhada

Centenas de vozes desconexas
são a trilha sonora dessa cidade patética
grande confusão é o que é
Não fazer sentido parece até necessário
para um bom convívio nesse mundo ordinário
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Algazarra, barulheira, balbúrdia
gritos, choros estridentes e buzinas
Feliz era aquele tal Macunaíma
que na calmaria do matagal vivia
deitado numa rede noite e dia
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Batidas de carro, motoqueiros no asfalto
discussões por bobagens, blábláblá inútil
um estampido agudo, um eco, um berro
correria,tumulto
Silêncio
ABSOLUTO